Febre Catarral Maligna
Leonardo Mayer
Febre Catarral Maligna
A febre catarral maligna (FCM) é uma doença infecciosa viral pertencendo ao gênero Rhadinovirus da família Gammaherpesvirinae.
A doença foi descrita no Brasil pela primeira vez em 1924 no estado da Paraíba, onde posteriormente se disseminou para outros estados do Nordeste, como Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe, além de estados do Sudeste e Sul. Segundo Garmatz et al (2004), a FCM afeta mais de 30 espécies de ruminantes, além de outras espécies como cervídeos e esporadicamente suínos.
A forma africana, ou FCM gnu-associada (FCM-GA), é induzida pela cepa Alcelaphine Herpesvírus 1 (AlHV-1) e transmitida por gnus. A forma denominada FCM ovino-associada (FCM-OA), transmitida por ovinos, é causada por herpesvírus ovino-2 - OvHV-2. Embora a FCM tenha sido documentada em bovinos de várias regiões do Brasil, como Nordeste ,Sudeste e Sul, os relatos são esparsos e não há uma documentação abrangente que determine as taxas de morbidade, mortalidade e letalidade e outros aspectos epidemiológicos e patológicos da FCM
Os sinais clínicos aparecem após um período de incubação de 3 a 10 semanas e incluem erosões e úlceras orais e nasais, febre alta, opacidade da córnea, corrimento nasal mucopurulento, salivação, diarréia, ceratoconjuntivite, linfadenopatia, diarréia, distúrbios nervosos e exantema cutâneo.
As lesões macroscópicas envolvem principalmente os tratos digestivo, respiratório superior e urinário, linfonodos, fígado, olhos e encéfalo e incluem lesões erosivo-ulcerativas em várias mucosas.
Histologicamente, as lesões consistem de vasculite com necrose fibrinóide, infiltrados mononucleares em vários órgãos, hiperplasia linfóide e necrose dos epitélios de revestimento e são consideradas patognomônicas ou muito características para a doença.
De acordo com a literatura corrente, Beer (1999) afirma que o quadro clínico da FCM não é único, pois podem ser diferenciadas da forma sobreaguda, forma oculocefálica e forma intestinal. O autor afirma que o período de incubação na infecção natural se dá entre 14 a 150 dias. De acordo com o autor, a doença tem início com um pico febril de 40°C (posteriormente febre persistente), onde são observados tremores musculares, calafrios, inapetências, ausência de produção de leite e atonia do rúmen. Com a evolução da FCM, podem ser observados problemas oftálmicos como iridociclite e ceratite, que pode desencadear uma ulceração e perfuração de córnea, com prolapso de íris e opacidade de córnea. Em relação ao sistema respiratório, é notável o aumento do fluxo nasal, com produção purulenta e fétida. A mucosa nasal apresenta-se hiperemica e inflamada. As lesões podem alcançar também os pulmões, provocando bronquiolite e pneumonia, seguido de tosse.
A FCM atinge também o sistema gastrintestinal, onde são observados lábios, gengiva e língua inflamados, seguidos por problemas de deglutição, na qual posteriormente pode levar a quadros de diarreias, cólicas e obstruções. Esta doença pode acometer também o SNC promovendo transtornos de equilíbrio, acessos epileptiformes clônicos podendo levar ao quadro de coma, o que condiz com o descrito por Garmatz et al (2004), na qual em uma transmissão experimental, o animal apresentou sinais clínicos de incoordenação, agressividade e convulsão. Podem ser observados ainda movimentos de pedaleio enquanto o animal esta em decúbito. Podem aparecer também alterações cutâneas, como formação de pápulas. Podem ser notados sons anormais à auscultação da traquéia, inflamação e necrose da vulva e espaços interdigitais
A evolução dos sinais clínicos é rápida e complicada, levando a óbito dentro de poucos dias.
Diagnóstico
Nota-se que são diversas as formas para se chegar ao diagnóstico da febre catarral maligna, como cita Mendonça et al (2008), que afirma que a técnica de PCR é a de maior prioridade para confirmação do diagnóstico desta doença, mais precisamente da FCM-AO (forma ovino-associada). O autor afirma ainda que esta técnica possui sensibilidade e especificidade e pode ser executada sobre tecidos frescos e fixados em formol. Neste método diagnóstico, o DNA viral pode ser obtido através de tecidos emblocados em parafina e em material fresco, como sangue total por exemplo.
Em relação à histopatologia, os achados histopatológicos mais encontrados foram vasculite fibrinóide em múltiplos órgãos e tecidos, infiltrados mononucleares em vários órgãos, hiperplasia linfoide, necrose dos epitélios de revestimento além de outras alterações microscópicas. Para realização desta técnica, devem ser coletados amostras do cérebro, linfonodos, mucosa do trato alimentar, esôfago, rúmen, rim, bexiga e glândula salivar fixados em formalina.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial da FCM deve ser realizado para diarreia viral bovina, estomatite vesicular, febre aftosa, língua azul e peste bovina. FCM requer diagnóstico diferencial de intoxicações por arsênico, cogumelo Ramaria flavo-brunnescens e por Amaranthus spp.
Tratamento
Um fator que resulta na alta taxa de letalidade é a ausência de um tratamento eficaz. Não existe tratamento específico ou vacinas eficazes contra a febre catarral maligna, porém tratamentos paliativos têm sido usados em alguns casos com relativo sucesso onde podem ser empregados antiinflamatórios não-esteroidais. Devido à falta de tratamento eficiente e com o intuito de minimizar o sofrimento do animal, pode ser empregada a eutanásia.
Profilaxia
Sabe-se que para prevenir a FCM, medidas simples podem ser feitas, como separar bovinos de ovinos, além do isolamento de bovinos afetados pela doença.